Moço, o Sr. entende desse treco? Era um Sony VAIO, tinindo de novo, cor prata, bilhando ao sol e encostado no canto, aparentemente sem vida, daquela mercearia de paredes amarelas esquecida no tempo, em plena rua 24 de maio, centro de Fortaleza. O "treco" não se conectava há tempos na Internet, portanto, era um inútil, segundo o proprietário do mesmo, por volta de uns 55 anos, barba por fazer e bigode de desenho animado. Veja se o Sr. consegue uma conexão aí, porque meu filho já tentou e nada, dizia-me ele enquanto o Windows XP me dava as boas vindas.Mexi, mexi e alguns minutos reativei a conexão. Alguém deve ter desconfigurado por acidente mas agora está conectado, comentei rapidamente, mostrando a tela do Google. Despedi-me, enquanto recebia o meu troco, com algumas saldosas balas maluquinhas no meio das moedas. O "treco" ganhará vida e agora não precisaria mais ficar encostado feito gato preguiçoso por cima dos sacos de feijão. Não era mais um inútil, um qualquer, um notebook sem pai nem mãe. Não. Agora ele estava na Internet. E não seria mais chamado de "treco".
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