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sábado, 23 de maio de 2009

Como criança que vai viajar

- Muito frio, né? Dormi com 6 cobertores e 4 meias de noite!

A pequena voz me pareceu um pouco alta demais dentro daquele elevador cinza. De olhar fixo e brilhante, encostou-se em uma das paredes e ficou falando comigo de forma intermitente entre o 9º andar e o térreo. O deslocar lento do elevador favorecia esse quase-monólogo.

Dizia ela, com seus 9, 11 anos, talvez, que estava indo passar o fim de semana na serra e levava consigo cobertores e meias extras, pois se em Fortaleza estava frio a noite quanto mais em Guaramiranga. Olhei rapidamente para seus pés e comprovei que a verdade sempre vem com os sapatos. Completamente fechados, contrastavam com os chinelos que eu usava. No 7º andar disse que entraria na faculdade de veterinária para ajudar todos os animais do mundo. Disse ainda que estava preocupada com o aquecimento do planeta e que tinha feito um trabalho sobre isso na escola. Trabalho premiado, ressaltou. No 3º andar, quase chegando, acrecentou que se não pudesse ser veterinária, seria ecologista. Não porque está na moda mas porque assim poderia ajudar além dos animais, as pessoas também. Preocupada com a vida em nosso planeta azul, disse que já sonhou em colocar todos os animais em um foguete e recomeçar a vida em outro planeta porque o nosso, segundo ela, está ficando meio complicado...

No térreo, ao abrir a porta, olha pela última vez para a mim e pergunta o que eu queria ser quando eu era criança. Sorrindo, digo rapidamente que queria ser astronauta. Sorrindo também, ela completa: Ôôô! Que legal! Teria dado para você levar os meus bichos.

Para ouvir a música que dá título a esse post, acesse aqui.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

É que a televisão me deixou burro muito burro demais

Anunciada com o tradicional estardalhaço provinciano de sempre, Fortaleza se tornou oficialmente a 18º cidade brasileira em que a TV Digital chegou, carente e banguela, similar a uma parte da população. É risível ver algo assim sendo alardeado como revolução tecnológica quando o que se vende, na prática, é apenas a melhoria da imagem e do som. Interatividade? Espere. Você não esperou até agora? Então espere mais. É claro que eu sei que você já comprou antes de todo mundo uma linda TV FULL HD de 50 polegadas, fininha como a chuva que molha nossas manhãs, avisou todos os seus amigos, promoveu uma festança e dizia em alto e bom som para quem chegava em sua casa: "Tira a sandália que tu pisas, porque a terra aqui é santa! Eu tenho o sinal digital!". Mas então, entre comes e bebes, alguém pergunta: "Gostei da imagem e do som, mas... e a interatividade?" Chôro e ranger de dentes. A interatividade está em fase de testes e testes esses experimentais. Mas para quê se lastimar, se a imagem e o som melhoraram? Comemore, fortalezense! Você faz parte desse momento histórico!


Era fevereiro de 2008 quando eu dei uma entrevista para o Leonardo Fontes em seu blog e umas das perguntas era o que eu esperava da TV Digital no Brasil. Confirmei a data com ele a pouco, em uma rápida conversa via Skype. Respondi na época que, da forma como estava sendo proposta, eu não esperava nada da TV Digital porque a interatividade, o filé mignon, o que de fato valeria a pena pagar o preço, não seria servido. Eis que o banquete é agora posto a mesa um ano depois e nada do filé, nem do contra-filé e nem mesmo da maminha. Interativade na TV Digital é só uma bela promessa. E até lá vão querer empurrar, em ritmo de conta-gotas, só o básico do básico, algo bem diferente do que já poderíamos ter hoje! E isso, amigo, em pleno século 21 é algo revoltante!

A televisão brasileira, com raras exceções, sempre nos deixou e continua nos deixando burros demais. Agora, resolveram ampliar isso. Além de burro, fazem você de palhaço, só que em alta definição. E ainda te vendem a fantasia. Você vai vestir?

sábado, 2 de maio de 2009

Chove lá fora e aqui, faz tanto frio...

Por entre o grande emaranhado de fios que entrecortavam postes de iluminação e cinzentos semáforos da chuvosa manhã que mal começara no cruzamento das Avenidas Virgílio Távora c/ Dom Luís, pararam ali diversas pessoas e ficaram a contemplar o imenso mostrador digital que em tantos outros dias se tornava mais um na multidão. Do carro, eu tudo via e ouvia. Incrédulos comentários rápidos. Isso está correto? questionou um passante. Puxa, frio mesmo!, disse um segundo. Sinal vermelho, registrei rapidamente de forma sequenciada a cena:

Sinal verde e a vida seguiu lentamente para mim naquele asfalto rigorosamente molhado e com buzinas mal-educadas vindas de todas as direções. Em meu pensamento agora a lembrança que em algumas cidades e mesmo em países inteiros, aqueles meros 21ºC de temperatura seriam tidos como algo normal e corriqueiro mas jamais aqui, na Fortaleza até então cortejada pelo sol. Aqui os 21ºC alteraram, ao menos por alguns rápidos momentos, não só o dia mas a rotina do vai-e-vem diário daquelas pessoas que se encontravam naquela esquina e olharam para o alto, ao mesmo tempo.